domingo, 31 de agosto de 2014

Refeição

Me despertei pelo desejo de retribuir. Eu que não sou amante da cozinha, decidi deixar o sofá  e alegrar o meu, o nosso dia, cozinhando.

A príncipio fui tomada pela raiva de todas as vezes,  quando tenho a súbita vontade de cozinhar e encontro apenas carne moída no setor de 'misturas' da geladeira. Mas ela passou em segundos e comecei a cozinhar com carinho.

Cortei cebola bem picadinha, depois pimentão e amassei o alho com o pilão. Enquanto isso o feijão cozinhava. Fazia tudo com uma alegria cantante ao som da panela de pressão. 

Nas panelas ao lado, cozinhei o arroz e ovos para incrementar a salada. Não parei não! Descasquei os ovos, torrei o pão, ralei queijo... Lembrei de cortar o bacon! Fritei. Ficou pronta então, a salada ceasar.

Continuei. Terminei a carne acrescentando o coentro. Temperei o feijão... Tudo pronto! Quando se está fora do Brasil,  a simplicidade da comida brasileira se transforma em evento.

A mesa posta... Anunciei. -Está pronto! Era a oferta do meu amor a quem tanto me oferta. Momentos felizes, na maioria das vezes não são obtidos na ociosidade. Cozinhar é um ato de amor!


Élida Regina Pereira

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

A Rota do Indíviduo

"E no mistério solitário da penugem, vê-se a vida correndo, parada, como se não existisse chegada..."
Djavan/ Orlando Morais



Daqui de fora, tenho apreciado a beleza de uma forma muita mais terna. Algumas coisas são melhores apreciadas quando não há interferências. Aqui, minha maior companheira tem sido a caneta. E a palavra de ordem que tem me acompanhado é equilíbrio. Há um tempo a questão que faço pra mim mesma, é:  Como equilibrar essas pernas curtas entre um lado e outro do mundo? Há um tempo, também descobri que levo a vida muito a sério e gosto disso!

Já tem um ano que cheguei desse lado do mundo e as mudanças internas são imensuráveis. A sensação de um retorno ao básico, é inevitável. E ao mesmo tempo é visível a transformação. É uma sensação de perda e ganho numa mesma jogada. Como é difícil lidar com a saudade da família, muitas vezes, com a solidão que nos afeta e a necessidade de aprender tudo de novo e de novo.  Essas vivências me fizeram regressar dez anos da minha vida e me fizeram envelhecer dez. 

Aprendi a amar a minha língua, a minha cultura, a minha pessoal história. Quando se mergulha em um mundo totalmente desconhecido e totalmente 'cru', o esforço terá sempre que ser maior para se adaptar. E quando mergulhamos em outro idioma e outra cultura é importante não deixarmos nossas raízes de fora. Então, tenho tentado o equilíbrio.

Do lado de cá, tenho selecionado o que quero ver e ouvir daí. Tenho arquivado em minha memória belezas brasileiras, que eu gostaria que o mundo todo entendesse a língua portuguesa e tivesse a mesma sensação que tenho ao apreciá-las. Tenho administrado meus dias, com todas as dificuldades, pra equilibrar as duas línguas, as duas culturas, os dois mundos.

O tempo aqui passa numa velocidade, que por mais que eu tenha tempo pra fazer tudo, nunca é o suficiente pra ver o progresso que eu gostaria. O tempo de aprendizagem parece que não caminha com o tempo real. A paz que existe nesse lugar nem sempre me penetra. Por mais que tenho tido uma paz que nunca tive antes, sou uma alma aflita. 

Tenho aprendido, que preciso apreciar as belezas do mundo. A vida vai passando e cada dia nos despedimos dela...


''na tarde distante... ferrugem ou nada."



Há dias tenho apreciado essa música que deu nome ao texto e me faz refletir sobre vida e beleza. Me vejo na mesma posição do Dominguinhos diante dessa música... meus olhos enchem de lágrimas e  aquela sensação indescritível de estar viva para apreciar essa obra.





Por
Élida Regina Pereira

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Amantes

Me deparei com a espontaneidade
dos amantes quando olhei pela janela.
Caminhavam em passos rápidos
E num abrupto ato...
Pararam,
Se beijaram,
Caminharam...

Amantes...
Eles são tantos,
as vezes, usam turbantes!

Ah! Essa janela...


Élida Regina Pereira


quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Tosca opinião

Quem nunca ouviu a máxima "Todos merecem uma segunda chance"?!

Quando sofremos uma decepção pessoal, essa é uma das frases que nos vem a cabeça depois do assentamento das ideias.

Embora, por muitas vezes, não cedemos à tentação.

Mas, sempre haverá quem fique magoado e chore, mas, quando o tempo passa, decide dar aquela "segunda chance".

A Primeira chance foi cheia de virtudes sobressaltadas, qualidades admiradas, futuros projetados e aquela confiança, muitas vezes, exarcebada.

A segunda nunca será como a primeira. Foi construida uma barreira.

A segunda chance é cheia de receios e marcada por palavras lançadas no rosto alheio.

A desconfiança será sempre a dona da casa.

Já não haverá conversa sobre todas as coisas.

Haverá  alfinetadas nas horas da raiva.

E sempre haverá aquela pausa pra pensar porque está ali... e lembrará que existe ou existiu amor.

Que as qualidades superaram o errar.

E então você se arrependerá por uma coisa ou por outra, mas se arrependerá.

Seja por alfinetar ou por amar.

Élida Regina Pereira

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Minha Bossa

Minha melancolia devia ser melodia.
Tipo bossa, que é melodia triste,
É autentica e subsiste.

Minha melancolia foi julgada incapacitada,
Foi atordoada!

Minha Melancolia deve ser exposta.
Porque  tenho o 'q' da tristeza,
Mas em mim... Ela é alteza.

Minha melancolia, como a bossa,
Não tem fossa e é formosa!

Minha Melancolia é melodia,
Que foi vaiada,
por uma arquibancada desalmada.

Minha melancolia é pra quem tem a alma,
pulsando na palma.

Minha melancolia é cortante,
E como bossa, pode ser também...
DANÇANTE!


Élida Regina Pereira

domingo, 17 de agosto de 2014

O Mistério do Palhaço

Fui laçada pelo mistério do palhaço.
Ele surgiu  caminhando no centro histórico,
As crianças gritaram alvoroçadas,
As moças também!

Tudo nele é mistério pra mim.
O rosto colorido...
Ele é bonito, e pelo jeito,
Distingido ele é também.

Ele não fala,
Não tenta fazer ninguém rir...
E todos ali...
Não gargalham, mas sorri!

Esse palhaço é envolto em mistério...
O que faz ele rir?
Será que ele chora de dor?
Se ele chora de dor...
Queria eu, ser artista assim,
Sorrir com dor, pra fazer outro rir.

Será que ele gosta de poesia?
Ele me ofereceu um coração.
Mas não era exatamente o dele,
(Talvez fosse um pedacinho)
Era um coração bem pequenininho,
Em papel dobradinho,
Num plástico em forma de saquinho.

Quando abri...
As letrinhas,
bonitinhas, diziam:
Gentileza.

Ri...
Sorri!

Élida Regina Pereira

Texto publicado no projeto palavra é arte- poesia 100 ed.

Manhã Marinada

A água do banho,
A olhadela no mar,
As Lágrimas...
Na caminhada na chuva,
Hoje a manhã foi úmida.

Tanta coisa fora de alcance...
Aquele mar imenso,
As regras,
A vida das outras pessoas,
A minha chance.

Nessas águas encontradas,
A alma tornou-se cálida,
O mar casou-se com as lágrimas,
Foi manhã marinada.

Élida Regina Pereira





sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Laço

Ele já não reclama das coisas que eu faço,
Não se incomoda com o arroz queimado.
A Necessidade é o compasso,
É facilidade na execução do laço.

Élida Regina Pereira

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Vergonhas

Me peguei no ato despretensioso, distraído,  de levar a mão ao rosto e contorcer o corpo na tentativa de negar ou esquecer que um fato ocorreu.

Quisera eu, que sou tímida, que algumas memórias ficassem apenas comigo. Mas, por decorrência de um fato lógico e real, que é, não estar sozinha no mundo e ainda viver em um mundo cheio de camêras  e  trocas de informações rápidas, carrego vergonhas comigo e todas elas tem registros. Podem ser facilmente rastreadas.

Mesmo que as vergonhas não se mostrem, não se provem (talvez não deveriam ser chamadas de vergonhas, talvez sejam mais um constrangimento, ou um pequeno constrangimento),  elas estão sempre registradas na memória de outras pessoas, nas fotos, nos vídeos e sendo relembradas nas conversas em família.

Minhas vergonhas são relacionadas à infância, às vezes que eu bati o carro ( e sempre houve alguém pra rir), quando eu rolei nas dunas de areia e caí no rio (isso não foi na infância, na verdade, não completou um ano que isso ocorreu) e algumas outras. Está tudo registrado em videos, fotos e memórias alheias que eu não quero ver ou ouvir sobre.

Algumas vergonhas eu  me lembro vagamente, outras ainda estão cicatrizando e outras são apenas engraçadas. Quando me peguei nesse ato de negação do fato ocorrido, ou apenas uma tentativa involuntária de negação, cheguei a conclusão que as minhas vergonhas sempre ocorreram durante um processo de adaptação e aprendizagem.

Talvez, isso explique porque me sinto tão pressionada durante um processo de aprendizagem. A vergonha é um sentimento que marca e  são lembranças que quando menos se espera, elas retornam. Mas o fato é que, a vergonha só se potencializa se houver platéia. Concluo, somos muito cruéis uns com os outros.

Como se não bastasse passarmos as nossas próprias vergonhas, eu e muitas outras pessoas ainda sofremos de vergonha alheia. Essa vergonha alheia está muito relacionada ao um ponto de vista muito egoista do mundo, há uma limitação de ser. O que nos dá o direito de sentir vergonha de um ato alheio?

Sinto que minhas  vergonhas não tem conexão com arrependimentos, as vejo mais como pegadas do meu caminho de superação. E isto me consola... não completamente, mas consola!




Élida Regina Pereira




O Deslizar das mãos

Escorre delicadeza,
Com a maciez perfumada
Essa palavra engasgada,
Cuspida na fala...
Das mãos!

Enxuga sutileza,
Essa frangância entornada
Em pele rachada,
Curada com a tala...
Das mãos!

Desliza com leveza,
Na alma embrulhada
Na palma rosada,
Que a terra badala...
Com o deslizar das mãos!

Élida Regina Pereira


quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Queria descrever alegrias


Gostaria de ser capaz de descrever um simples momento de alegria.  Esses momentos tão raros e rápidos. Mas, não sou dotada de talento pra esse lado mais fugaz da vida.

Outro dia, sonhei que estava correndo, correndo de uma forma que a realidade jamais me permitiria! O sonho me presenteou com essa sensação e quando acordei, ainda cansada da corrida, faltou palavras pra descrever sensações tão realísticas . Uma sensação tão única, que continuará única.

Me vejo agora, com a inocência de uma menininha, reivindicando:
-- Não devia nos faltar palavras diante do mundo!
Pelo menos, diante do meu mundo. Mas falta!

Queria descrever quando me sinto pisoteando meu medo e o sorriso em  meu rosto quando imagino  ele no chão. Quando caminho sobre pedras e todas elas tem meu rosto. Quando atravesso a porta e encaro com coragem o não.

As palavras vem até mim,  quando a sensação é longa. As alegrias são curtas, e mesmo que não sejam, elas parecem curtas. Preciso de um tempo longo pra digerir emoções, mas alegrias são fugazes!

Queria descrever alegrias... É só um desejo.
Me tranquilizo, porque nem sempre é preciso palavras. Nem tudo no mundo... é palavra.


Élida Regina Pereira






Observatório

O moço decidiu lavar as rodas da bicicleta na poça da chuva.
Roda a roda na poça da chuva,
Limpa a roda na água suja!

Élida Regina Pereira