segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Eu engoli uma pedra

Eu engoli uma pedra a cada descoberta.
Quando me mostraram a separação entre o norte e o sul do Sudão.
Quando eu vi jornalistas presos por exercer sua profissão.
Quando eu percebi que no Brasil a vida está por um fio.
Quando Senti as dificuldades da peregrinação.

Eu engoli uma pedra...
Quando me mostraram as vitímas da religião.
Quando percebi que acreditar é em vão.
Quando vi homossexuais assasinados por nada.
Quando percebi que a beleza da criança é usurpada.

Eu engoli uma pedra...
Quando percebi que ser mulher padronizada conduz a mediocridade.
Quando fui insultada pela minha nacionalidade.
Quando vi conspirações políticas destruindo vidas, sonhos e pesquisas.
Quando vi o palhaço morrer triste.

Eu engoli uma pedra...
Quando senti o racismo na pele.
Quando descobri a história da colonização.
Quando percebi que por motivos banais se faz uma guerra.
Quando fui chamada de ‘vagabunda periférica’.

Eu engoli uma pedra...
Quando vi os conflitos na faixa de Gaza.
Quando descobri a situação do povo haitiano.
Quando percebi que o mundo não me daria chance.
Quando fui traida enquanto amava.

Eu engoli uma pedra...
Quando senti que a saudade tem efeito venenoso.
Quando percebi que a vida é campo perigoso.
Quando vi mulheres violentadas e assassinadas.
Quando percebi que estava errada.

Eu engoli muitas pedras 
e EM pedras não nascem flores!
Mas, ENTRE elas… 
Nascem rosas!

Élida Regina Pereira


Texto publicado no projeto palavra é arte - poesia 100 ed.






4 comentários:

  1. Escandalosamente delicado. Belos frutos estão sendo gerados nas suas descobertas.
    Lindo de se ler! Parabéns!

    ResponderExcluir
  2. Marcelo querido, obrigada por suas belas palavras!! Beijo estalado em tu!

    ResponderExcluir
  3. Muito lúcido texto... Ataca, inclui, opõe e renasce... Poesia pura...
    Parabéns.

    ResponderExcluir