Triste, Laura caminhava pela rua cada vez mais rápido.
Trêmula, retirou a chave da bolsa. Demorou alguns segundos para abrir o portão,
entrou e o encostou. Caminhou pelo corredor até a porta, abriu-a com uma rapidez
desesperada. Ainda trêmula, entra e fecha-a logo em seguida. Já do lado de
dentro, encostada na porta, Laura chora, chora num profundo desconsolo, suas
pernas vão perdendo a força e seu corpo desliza de encontro ao chão.
Sentada no chão, ela ficou a chorar por algum tempo. Levantou-se e caminhou até seu quarto, se pôs diante de um painel de fotos que
ficava na parede do lado direito do quarto. As fotos compunham momentos
importantes de sua vida. Retirou uma delas do painel e leu no verso:
Caio, Bruna e Carla
17 de setembro de 2010
Ilhéus, Bahia.”
Ainda chorando, apertou a foto sobre o peito e a devolveu ao
painel. Seguiu até a cozinha, abriu a gaveta do armário e retirou uma faca. Prosseguiu até o fogão, pegou uma caixa de fósforo, voltou ao armário, abriu uma porta,
retirou um litro de álcool e seguiu novamente até o quarto. Calmamente colocou os objetos no
chão e enxugou as lágrimas.
Agora, Laura observa o painel com um aspecto
recuperado e viril. Delicadamente ela liga o aparelho de som e coloca para tocar, em altíssimo volume a música “Lanterna
dos afogados”, na voz do grupo Paralamas do Sucesso. Laura sente a música
penetrar sua alma, passa a mão fortemente em sua barriga, puxa pra si a sua bolsa que está
próxima, retira um envelope e abre com rapidez. Seus olhos seguem todas as
letras que estão naquele papel e paralisa na palavra: POSITIVO.
Se abaixa e
pega o litro de álcool. A música toca. Laura derrama o álcool sobre o corpo. Se
abaixa pela segunda vez, pega a caixa de fósforo e a faca. Com a mão direita, segura a faca com a lâmina virada para o seu corpo na direção de sua barriga e
na mão esquerda segura a caixa de fósforo. A música continua a tocar... Laura
tem um olhar seco e frio. Ela pronuncia com vivacidade junto com a música:
- “♫ Há uma luz no túnel pra os desesperados!♪”
Com muita força... Laura finca rapidamente a faca na barriga por duas
vezes. Seu olhar continua seco e frio. Solta a faca , abre a caixa de fósforo e
novamente pronuncia, já sem vivacidade na voz...
- “♪ Há um cais no porto pra quem precisa chegar!”
Risca o fósforo com as mãos
trêmulas, e no mesmo instante uma imensa labareda a envolve.
* Baseado em uma história real
Élida Regina
Muito bem escrito! Porém, triste!
ResponderExcluir